terça-feira, 4 de janeiro de 2011

As Feras

Subi a montanha para gritar
Soube da montanha falar e gritar
Aquele povo lá embaixo me ouviu
E aquele povo de baixo me viu

Virei um mosquito e voei até lá
Falavam do grito, o grito do louco
De cima do morro berrava, bradia
Gritando com a força da entranha que tinha

Estava orgulhoso de terem me ouvido
De doido me chamam depois do rugido
Mas eu não sou louco, jamais eu rugi
Tentei avisar dos leões que eu vi

Eles não me ouvem ou fingem escutar
Não querem os berros quando possa dar
Querem silêncio, que eu deite, que eu durma
Assim, desolado não faço besteiras

Então eles correm de um lado pra outro
Mordidas e urros, alertas do louco
Deitado sorrindo quietinho os ouço
Leões se fartando de quem me fez pouco

Assim depreciado, depressivo durmo
Não foi de um sonho que vieram as feras
Eles machucados e eu quase morto
Eterna criança, cuidados pro tolo

As feras se foram de barriga cheia
Não era de carne mas de alma alheia
Por fora intacto, inteiro, sem teia
Por dentro feridas deixadas da ceia